Um projeto de pesquisa inovador está utilizando o lambari, um peixe de água doce com cerca de 10 cm de comprimento e peso máximo de 50 g, como uma espécie de “barriga de aluguel” para a reprodução da piracanjuba. A piracanjuba é um peixe que pode atingir até 80 cm de comprimento e pesar até 4 kg, e está atualmente na lista de animais com risco de extinção.
Essa pesquisa, conduzida pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (Cepta), em parceria com a CTG Brasil, uma das maiores geradoras de energia do país, visa preservar a piracanjuba, que possui forte apelo comercial e é muito atraente para pescadores esportivos por ser “bom de briga”. No entanto, a espécie enfrenta desafios de reprodução, uma vez que sua população natural nos rios é composta por 90% de machos e apenas 10% de fêmeas. Além disso, ela é alvo de peixes de outras bacias hidrográficas introduzidos em seu habitat natural.
O lambari foi escolhido como “barriga de aluguel” devido à sua simplicidade e abundância em todos os rios. A pesquisa utiliza a técnica da “propagação mediada”, inspirada na barriga de aluguel de humanos, que permite que um peixe produza óvulos e espermatozoides de outra espécie em laboratório. As células-tronco embrionárias da piracanjuba são introduzidas no lambari, fazendo com que os machos produzam espermatozoides da piracanjuba e as fêmeas gerem óvulos da mesma espécie para a fecundação em tanques. Para evitar riscos de manutenção das próprias células reprodutivas do lambari, um lote de machos e fêmeas foi esterilizado no processo.
Embora já tenham alcançado um lambari macho com DNA 100% de piracanjuba, ainda não conseguiram o mesmo resultado com as fêmeas. O pesquisador Norberto Castro Vianna, especialista de Meio Ambiente da CTG Brasil, estima que a pesquisa levará pelo menos mais um ano para ser concluída. O plano é realizar a fecundação em tanques, criar as larvas resultantes e liberar os alevinos de piracanjuba no rio Paraná. O lambari, com sua reprodução quatro vezes ao ano, é uma escolha adequada como “barriga de aluguel”, enquanto a piracanjuba só se reproduz uma vez. Além disso, o lambari se adapta facilmente à reprodução em cativeiro, e sua proporção natural de nascimentos é de 50% de machos e 50% de fêmeas.
Além de Vianna, estão trabalhando no projeto os pesquisadores do Cepta George Shigueki Yasui e José Augusto Senhorini.
O investimento da CTG Brasil nesta pesquisa e em outra já concluída que permitiu a criação de um protocolo científico para identificar quais espécies vivem em cada bacia hidrográfica e estimar a população de cada uma nos rios já soma R$ 13 milhões.
Fonte/Imagens: https://www.ctgbr.com.br/ e https://globorural.globo.com/pecuaria/peixe/noticia/2024/03/lambari-vira-barriga-de-aluguel-para-impedir-extincao-da-piracanjuba.ghtml